BEM-AVENTURADA MARIA POUSSEPIN (1653-1744)
Membro da Associação Internacional de Caridades Maria Poussepin nasceu a 14 de outubro de 1653, em Dourdain, França. Nesta cidade, em 1663, foi instituída a Confraria da Caridade (fundada por São Vicente de Paulo, em 1617, e hoje chamada Associação Internacional de Caridades – AIC), formada por um grupo de senhoras e jovens que tinham ideais comuns e se dedicavam ao serviço dos Pobres enfermos. Membro dessa Confraria, assim como sua mãe, Maria chegou a ser tesoureira e superiora da obra. Trabalhou sempre incansavelmente em favor dos Pobres, servindo-os nos dias determinados, visitando-os e levando-lhes alimentos e remédios.
A família Poussepin se dedicava à fabricação artesanal de meias de seda. Com a morte de seus pais, Maria assumiu a direção e a total responsabilidade da pequena indústria. Atenta às mudanças econômicas e sociais da França, Maria se adaptou muito bem às novas circunstâncias. Sem hesitar, introduziu em sua fábrica um maquinário novo, importado da Inglaterra, e mudou sua produção de seda para lã. Com isso, Maria Poussepin, pioneira nesse tipo de empreendimento, transformou sua cidade, gerando empregos e dando-lhe condições de competir com outros pólos industriais. Como empresária, esforçou-se para
“gerar emprego digno e promover a aspiração a uma sociedade mais justa e a uma convivência cidadã como bem-estar e em paz” (DA 404). Assim, pôde encaminhar a vida de muitas pessoas até então desempregadas, especialmente jovens de 16 a 20 anos, mostrando que não pode haver nenhum progresso social autêntico sem a devida atenção à pessoa humana e sem a conveniente capacitação dos mais jovens.
Em Sainvilles, para onde se mudou no final de 1695, começou uma obra revolucionária: agrupando em torno de si mulheres desejosas de se consagrarem a Deus e aos Pobres, Maria estabeleceu as bases de sua Congregação, a das Irmãs de Caridade Dominicanas da Apresentação da Santíssima Virgem, no desejo de ser de Deus e entregar-se ao serviço da caridade. Faleceu com 90 anos, no dia 24 de janeiro de 1744, por todos aclamada como Apóstola da Caridade. Memória litúrgica: 20 de outubro.
BEM-AVENTURADO ANTÔNIO FREDERICO OZANAM (1813-1853)
Principal Fundador da Sociedade de São Vicente de Paulo Antônio Frederico Ozanam nasceu a 23 de abril de 1813, na cidade de Milão, Itália. Em 1830, Ozanam dirigiu-se a Paris para estudar Direito na Sorbonne. Em 1831, com alguns amigos universitários, aderiu à Conferência de História, que então se realizava sob a orientação de Emmanuel Bailly e reunia vários jovens para discutirem assuntos de relevância. Ali, intelectuais e jovens universitários se reuniam para debater temas como literatura, história, política, pobreza e seus desafios, progresso das civilizações, etc.
Em 1833, ainda estudante, Ozanam sentiu-se profundamente interpelado pela realidade de fome e miséria que o cercava. Sua consciência cristã não permitiu que ficasse alheio ao sofrimento dos Pobres que clamavam a Deus pedindo justiça. Numa das reuniões da Conferência de História, propuseram para a discussão o tema da fé atuante. Então um dos participantes fez sérias interpelações aos estudantes católicos que ali estavam, questionando-os sobre onde estariam os frutos da caridade que a religião deles pregava. Ozanam convocou, então, alguns amigos para fundarem uma Conferência de Caridade, com o objetivo de ajudar os Pobres e necessitados:
“Quanto desejaria que todos os jovens de espírito e coração se unissem em torno de alguma obra de caridade, organizando-se em todo o país uma ampla e generosa associação para o alívio das classes populares” (Ozanam, carta a Ernesto Falconnet, 21 de julho de 1834). E assim começou o que hoje se conhece como Sociedade de São Vicente de Paulo. Era o dia 23 de abril de 1833.
Inquietos para darem vazão ao seu espírito de caridade, esses jovens recorreram à Irmã Rosalie Rendu, dedicada Filha da Caridade que trabalhava num pobre bairro de Paris. Depois de muita conversa e de sábias instruções, Ozanam e seus amigos firmaram um compromisso: todas as terças-feiras ali iriam, logo após a reunião da Conferência, a fim de contribuir, através do trabalho voluntário e dos recursos financeiros, com as obras sociais das Filhas da Caridade.
Por entre ruas e vielas, escadarias e cortiços, Ozanam e seus amigos visitavam, uma a uma, as casas dos Pobres, conversavam sobre a vida e os acontecimentos, informavam-se sobre a família, anotavam suas necessidades imediatas e, antes de sair, davam vales para fazerem compras no comércio local, alguma roupa, velas e lenha. Trocavam um aperto de mão, prometiam voltar e partiam felizes por tê-los escutado e, sobretudo, por ter-lhes levado algum sinal de esperança.
Ozanam, de fato, queria reunir, para o socorro dos Pobres, todos aqueles que pretendiam um mundo mais solidário. Era essa sua solução para a sociedade e sua mais declarada obsessão:
“Somos muito jovens para intervir na luta social. Ficaremos, então, inertes, em meio a um mundo que sofre e geme? Não! Um caminho está aberto para nós.
Antes que possamos tratar do bem público, procuremos fazer o bem a alguns; antes de regenerar a França, poderemos aliviar o sofrimento de alguns de seus Pobres” (Ozanam, carta a Ernesto Falconnet, 21 de julho de 1834).
No decurso de sua vida, Ozanam também se destacou por sua habilidade intelectual, o que lhe fez obter a licenciatura em Direito (1834) e em Letras (1835) e, logo depois, o duplo doutorado em Direito Romano e Direito Francês (1836). Tudo isso fez dele um dos mais importantes intelectuais jovens da França no século XIX.
No dia 08 de setembro de 1853, a morte vem ao seu encontro, por problemas respiratórios. A caridade organizada e o desejo ardente do mundo novo não só tomaram conta de sua vida, mas também se irradiaram para todos os cantos do mundo, unindo homens e mulheres numa
“grande rede de caridade”, amizade e misericórdia. Não é à toa que o Papa João Paulo II exclamou:
“Frederico, a tua estrada tornou-se verdadeiramente estrada de santidade”. Sim, estrada de santidade leiga, de santidade batismal. Estrada para aqueles que não abrem mão de sua responsabilidade social e eclesial, para aqueles que sabem que podem contribuir para o mundo novo, para aqueles que fazem questão
“de ser parte ativa e criativa na elaboração e execução de projetos pastorais a favor da comunidade” (DA 213) e de toda a humanidade.Estrada para todos aqueles que, no mundo e, particularmente, no ambiente em que vivem, desejam seguir Jesus no amor e na misericórdia efetiva. Memória Litúrgica: 09 de setembro.
INSPIRAÇÃO BÍBLICA
O bom Samaritano (Lc 10,25-37) Um doutor da Lei se levantou e, querendo experimentar Jesus, perguntou: “Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?” Jesus lhe disse: “Que está escrito na Lei? Como lês?” Ele respondeu: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força e com todo o teu entendimento; e teu próximo como a ti mesmo!” Jesus lhe disse: “Respondeste corretamente. Faze isso e viverás”. Ele, porém, querendo justificar-se, disse a Jesus: “E quem é o meu próximo?” Jesus retomou: “Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos de assaltantes. Estes arrancaram-lhe tudo, espancaram-no e foram-se embora, deixando-o quase morto. Por acaso, um sacerdote estava passando por aquele caminho. Quando viu o homem, seguiu adiante, pelo outro lado. O mesmo aconteceu com um levita: chegou ao lugar, viu o homem e seguiu adiante, pelo outro lado. Mas um samaritano, que estava viajando, chegou perto dele, viu, e moveu-se de compaixão. Aproximou-se dele e tratou-lhe as feridas, derramando nelas óleo e vinho. Depois colocou-o em seu próprio animal e o levou a uma pensão, onde cuidou dele. No dia seguinte, pegou dois denários e entregou-os ao dono da pensão, recomendando: “Toma conta dele! Quando eu voltar, pagarei o que tiveres gasto a mais”. E Jesus perguntou: “Na tua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” Ele respondeu: “Aquele que usou de misericórdia para com ele”. Então Jesus lhe disse: “Vai e faze tu a mesma coisa”.
LEITURA ESPIRITUAL
Trechos de uma carta do Bem-Aventurado Frederico Ozanam ao
Padre Pendola (19 de julho de 1853)
Pois bem, Reverendíssimo Padre, tudo quanto fizestes por minha pequena família e por mim sensibilizou-me menos que a promessa que me fizestes em relação à Sociedade de São Vicente de Paulo. Esta querida Sociedade é também minha família. Foi ela, depois de Deus, que me manteve na fé quando deixei meus bons e piedosos pais. Amo-a, portanto, e a ela me apego pelos laços mais íntimos do coração. Quão feliz eu me senti ao contemplar a boa semente germinando e prosperando nessa terra da Toscana. E maior foi o meu prazer ao vê-la espalhar tanto bem, sustentando na virtude tão grande número de jovens e inflamando em alguns tão admirável zelo.
Uma útil lição para fortificar os corações amolecidos dos jovens é pôr-lhes diante dos olhos o espetáculo da pobreza, mostrar-lhes o Cristo, não somente nas imagens pintadas pelos grandes mestres ou sobre os altares resplandecentes de ouro e de luzes, mas nas suas chagas, na pessoa dos Pobres! Muitas vezes falamos sobre a fraqueza, a frivolidade e a pequenez dos homens, mesmo cristãos, entre a nobreza da França e da Itália. Estou convencido, porém, de que são assim porque algo faltou na educação deles. Alguma coisa não lhes foi ensinada, alguma coisa que apenas conhecem de nome e que é preciso ter contemplado: o sofrimento alheio, a fim de aprender a suportá-lo quando um dia aparecer. Esta coisa é a dor, a privação, a necessidade. É preciso que esses jovens senhores saibam o que é a fome, a sede, a nudez. É necessário que eles vejam esses miseráveis, essas crianças enfermas, crianças em lágrimas. É preciso que as vejam e as amem. Ou essa visão fará pulsar seus corações ou esta geração estará perdida. Não se deve, porém, jamais julgar morta uma jovem alma cristã. Não está morta; apenas adormecida.
QUESTÕES PARA APROFUNDAMENTO
A partir da vida desses bem-aventurados e das leituras, o que é santidade?
Qual tem sido nossa atitude diante do sofrimento dos irmãos? Damos as costas ou nos inclinamos diante de seu sofrimento?
Como podemos ser santos hoje?